Entre o rigor e o alcance: Como empresas podem navegar entre o jornalismo tradicional e a influência digital

Entre o rigor e o alcance: Como empresas podem navegar entre o jornalismo tradicional e a influência digital

A Internet democratizou o acesso à informação, mas também tornou o consumo de notícias mais fragmentado, rápido e, muitas vezes, superficial. Nesse cenário, os influenciadores digitais assumiram protagonismo na formação de opinião, principalmente entre os mais jovens, enquanto o jornalismo tradicional enfrenta uma crise de credibilidade e engajamento. Essa tensão entre criadores de conteúdo e imprensa é um dos pontos mais relevantes para empresas que desejam se comunicar de forma estratégica: entender onde está sua audiência e como ela constrói confiança.

O caso do youtuber Felca é ilustrativo. Seu vídeo sobre a exploração e a adultização de crianças, lançado em agosto, ultrapassou 50 milhões de visualizações e mobilizou desde doações recordes até debates no Congresso Nacional. Felca passou um ano apurando dados, organizou as informações em uma narrativa acessível e conseguiu transformar um tema conhecido em uma pauta nacional. A força desse conteúdo mostra como a Internet, quando bem utilizada, pode ser uma ferramenta poderosa de mobilização social.

Não estamos falando de algo desprezível também sob o aspecto financeiro. O mercado de marketing de influência atingiu US$ 24 bilhões em 2023, com projeções de chegar a US$ 32,55 bilhões este ano, de acordo com um levantamento recente. Esses números não são apenas estatísticas; eles representam uma mudança fundamental na forma como as pessoas consomem informação e tomam decisões.

Mas há um ponto crucial: o trabalho de Felca, ainda que bem-feito, é uma exceção à regra. A lógica das redes sociais favorece o imediatismo, a viralização e, muitas vezes, o sensacionalismo, o que nem sempre garante a qualidade da informação. A comunicação responsável, que investiga, checa dados, ouve fontes qualificadas e contextualiza fatos, continua sendo o papel central do jornalismo sério, que, embora muitas vezes menos “atrativo” em um feed de notícias, é insubstituível na construção de credibilidade.

Para as marcas e empresas, esse cenário impõe um desafio: como se posicionar em um ambiente em que a informação circula em alta velocidade, influenciadores têm um peso crescente e a imprensa tradicional segue sendo o principal espaço de validação pública? A resposta passa por integrar as duas esferas. É essencial que negócios estabeleçam relações sólidas com veículos jornalísticos e, ao mesmo tempo, entendam a dinâmica das redes sociais e dos influenciadores, cada um com seu público, linguagem e relevância.

Essa eficácia não é acidental. Os influenciadores digitais construíram relacionamentos de proximidade com suas audiências, compartilhando rotinas, opiniões e experiências de forma contínua e pessoal. Segundo um relatório, 61% dos consumidores das gerações Z e Y afirmam confiar em influenciadores digitais, contra 51% em 2019. Em paralelo, estudos indicam uma queda histórica da confiança no jornalismo tradicional. Isso significa que marcas precisam estar atentas a esse deslocamento da atenção pública, mas sem renunciar à

seriedade. A credibilidade, afinal, ainda é o maior ativo de uma organização, e ela não se constrói com memes ou campanhas virais, mas com consistência.

Neste cenário, agências de comunicação têm aqui uma função vital: conectar o rigor jornalístico à linguagem digital, transformando dados e posicionamentos institucionais em narrativas que dialoguem com o público sem perder profundidade. O episódio de Felca não deve ser visto apenas como inspiração, mas como alerta. Para que o debate público não dependa exclusivamente de um vídeo viral, empresas e organizações precisam investir em comunicação estratégica, que respeite tanto a agilidade das redes quanto a responsabilidade da imprensa.

Quando uma companhia precisa abordar temas complexos, lidar com crises ou construir sua reputação a longo prazo, a credibilidade conferida por veículos de imprensa estabelecidos permanece insubstituível. O jornalismo tradicional oferece algo que a viralização nem sempre consegue: profundidade. Enquanto um post pode gerar milhões de views, uma reportagem bem apurada constrói narrativas duradouras, estabelece precedentes e cria referências que permanecem relevantes ao longo do tempo. Para empresas que lidam com questões regulatórias, sustentabilidade ou responsabilidade social, essa solidez editorial é fundamental para estabelecer confiança com stakeholders críticos.

O poder da narrativa está nas mãos de quem sabe equilibrar alcance e conteúdo. Em uma sociedade cada vez mais informada – e desinformada ao mesmo tempo -, organizações que conseguem se posicionar com clareza, verdade e propósito ganham não só relevância, mas confiança.

E a sua marca? Como ela está navegando por esse novo e desafiador cenário? Fale conosco.