Storytelling: motivos e efeitos da contação de histórias em comunicação

Storytelling: motivos e efeitos da contação de histórias em comunicação

Parte I

Por Rodrigo Silveira Cogo

Que conversa você vai ter aqui?

            Há uma grande diferença entre o que as pessoas querem dizer e o que os outros entendem quando falam uns com os outros. Também é difícil transmitir a identidade de um negócio ou de uma pessoa de forma que todos compreendam. Por isso, tenho abordado sobre como contar histórias pode ser uma maneira melhor de se comunicar e se relacionar. Contar histórias reais pode tornar o conteúdo mais interessante e fácil de lembrar. Não se trata de usar palavras complicadas, mas sim de usar uma linguagem que todos possam entender e que seja envolvente. As histórias de vida geram conteúdos significativos, memoráveis e compatíveis com as experiências de qualquer um.

Atualmente, as pessoas se comunicam de maneiras diferentes, principalmente por meio da tecnologia. As organizações precisam entender a importância de ouvir e envolver todos aqueles com que se relacionam (os chamados “stakeholders” ou “grupos de interesse”), considerando suas opiniões. Contar histórias pode ajudar a criar conexões emocionais e atrair as pessoas para conversas mais significativas. Em um mundo onde a tecnologia facilita a comunicação – mas também pode atrapalhá-la pela disponibilidade de tantos canais ao mesmo tempo, é essencial que as organizações se adaptem e se comuniquem de forma transparente, levando em conta o impacto da sociedade conectada.

E não se faz isto, naturalmente, com linguajar objetivo, quantitativo, duro, superficial, numérico e facilmente esquecível. Temos que conhecer e saber lidar com uma proposta narrativa que já acompanha a formação natural do homem como ser social, e com abertura para as afetividades e uma linguagem de encontro, compreensão, qualidade e reencantamento.

Sobre o que anda mudando no mundo

Surgem transformações cada vez mais claras nas maneiras de enxergar as distâncias, o tempo e as interações. Diversos atores estão conectados e se comunicando, com grande capacidade de inovação, motivados por plataformas que facilitam a troca e a disseminação de ideias. Enquanto antes as pessoas eram vistas como meros consumidores de informações controladas por poucos, hoje elas são as protagonistas de novos relacionamentos mediados ou impulsionados pela tecnologia, que ampliam as possibilidades. Ao invés de todos assistindo ao mesmo programa de TV, agora temos múltiplas opções de interação em grupos por afinidade – como encontros presenciais de uma determinada religião, os chats de Whatsapp de entusiastas de culinária, a comunidade no Facebook de proprietários de um modelo específico de carro, os colegas voluntários em uma ONG, os encontros por vídeo do clube do livro do mês ou o fórum online de consumidores de uma marca ou produto em particular.

As organizações precisam se adaptar às mudanças atuais, que são marcadas pela presença de diversas plataformas e diferentes atores, encorajados a participar ativamente. Os cidadãos estão mais engajados e críticos, possuindo grande habilidade de se comunicar através das redes digitais, o que impacta diretamente no mundo empresarial. É fundamental, portanto, entender a importância de valorizar as diferentes vozes participantes, todas essenciais para o funcionamento de uma organização viva, como empresas e instituições, exigindo uma abordagem mais holística e inclusiva de linguagem. Aí que entram as histórias de vida.

As experiências e percepções de todos os envolvidos no ambiente de trabalho devem ser consideradas através de práticas de gestão e comunicação que incentivem a colaboração e libertem a criatividade. Muitas vezes, as interações atuais são muito impessoais e técnicas. A emoção, o senso de pertencimento e a inspiração são elementos essenciais para envolver em conversas que vão além das instruções, das métricas e dos relatórios.

E ainda precisamos considerar a falta de foco. Informações e conhecimento estão em alta, enquanto a capacidade de concentração humana está diminuindo. O que garante prestígio hoje em dia não é apenas o dinheiro, mas sim ser capaz ou não de atrair atenção. Compreender a era da ‘economia da atenção’ implica em não apenas ser uma organização competente e sólida, mas também em estimular as mentes – e tocar os corações dos públicos. O paradoxo é claro: ninguém se sentirá educado, aprenderá com a situação ou tomará ações significativas de mudança se não houver um mínimo de atenção disponível.

Enxergar uma empresa como um conjunto social intencionalmente formado para alcançar objetivos comuns não implica em uma gestão autoritária, subserviência a normas impostas sem diálogo prévio e intimidações de qualquer tipo. Pelo contrário, trata-se da promoção de uma reciprocidade na oportunidade de se expressar; a diminuição das relações de autoridade, dos cargos estabelecidos formalmente e de outros meios de poder, favorecendo a divulgação total de informações e transparência nos processos decisórios. A sensação e a vivência da liberdade, do estímulo ao diálogo e da iniciativa no cotidiano acabam influenciando as relações no ambiente de trabalho, e a adesão e produtividade são marcadas pelo cumprimento de normas consensuais.

O conceito de comunicação se torna impregnado com uma abordagem abrangente, servindo como mediador entre as relações profissionais (realização de tarefas na produção de bens e serviços), relações interpessoais (atendendo às necessidades e satisfações dos indivíduos como parte de um determinado contexto) e relações identitárias (os costumes que funcionam como códigos para a atribuição de significados e percepções de sentido pelas pessoas). É este contexto que se torna fundamental para trabalharmos com histórias nas organizações – e, sem ele, a aplicação se torna um pouco mais complicada.

Veremos mais sobre isto em um próximo post por aqui. Aguardem!

Rodrigo Silveira Cogo é Diretor e Curador do Sinapse Conteúdos de Comunicação em Rede (www.rodrigocogo.com.br/sinapse) e autor do livro “Storytelling: as narrativas da memória na estratégia da comunicação”, pela Aberje Editorial.